Editorial - Democracia seletiva: o uso de gravatas e o marxismo na colônia
Vivemos sob a égide de sistemas que, embora defendam a igualdade e a justiça, frequentemente demonstram incoerências tão gritantes quanto ignoradas. Um desses paradoxos se manifesta na própria democracia, que insiste em se apresentar como universal, quando, na prática, seleciona quem é digno de voz, representação e até mesmo de vestuário. Sim, vestuário. Hoje, o Via de Regra propõe um olhar crítico sobre uma questão sistematicamente negligenciada: o direito de vestimenta das formigas.
Um silenciamento de gerações
Durante séculos, essa espécie foi relegada ao status de inferioridade, não apenas pela biologia ou pela cultura popular, mas também pelas estruturas institucionais humanas. A prova disso é clara e irrefutável: algum cidadão brasileiro já avistou uma formiga de terno, ou sequer com uma singela gravata? A resposta, sabemos, é negativa. Não por falta de interesse por parte das formigas – cuja ética de trabalho é inquestionável – mas sim pela ausência de políticas públicas e discussões sérias sobre a inclusão estética e simbólica desses pequenos seres sociais.
O descaso das lideranças globais diante dessa pauta é gritante. A justificativa é sempre a mesma: não há retorno econômico. Os interesses das grandes corporações, sobretudo da indústria têxtil, priorizam lucros em larga escala. A produção de vestes em tamanho microscópico representaria um aumento de custo sem garantia de venda – afinal, a moeda da sociedade formigueira, pasmem, não é aceita nos sistemas bancários humanos.
Enquanto isso, a população humana, entretida com frivolidades digitais, permanece alheia à situação. Recentemente, imagens de crianças fantasiadas de formigas durante o Carnaval viralizaram nas redes. Uma brincadeira, diriam alguns. Mas não para nós. Denunciamos esse ato como um deboche velado à nudez compulsória das formigas. Onde está o local de fala dessas crianças humanas para satirizar uma espécie cuja dignidade sequer é considerada?
E mais: discriminação de imagem
Há, ainda, um outro ponto que merece análise: a associação automática entre formigas e trabalho pesado. A alcunha de "operárias" reforça o estereótipo de que sua existência deve ser dedicada exclusivamente ao labor, excluindo qualquer possibilidade de elegância formal ou direito ao descanso. Trata-se de uma visão classista aplicada à entomologia: uma forma de reduzir a identidade das formigas à de uma classe subalterna – condenada ao anonimato, ao esforço incessante e à nudez obrigatória.
Proposta de intervenção social
Diante de tal cenário, este jornal não se cala. Publicamos, assim, esta nota de repúdio e convocamos a sociedade a um gesto simbólico, mas significativo. Sabe aquela cueca furada, aquela camisa esquecida no fundo da gaveta? Corte, recorte, transforme. Confeccione uma gravata em miniatura. Doe a uma formiga.
Pode parecer utopia. Pode parecer absurdo. Mas toda revolução começa com um gesto pequeno – às vezes, tão pequeno quanto uma mini gravata. Democratizar a sociedade é reconhecer que o direito ao respeito veste muitos tamanhos.
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Achei sensacional. Quero mais <3
ResponderExcluirValeu! Não se esquece de fazer sua doação de gravatas.
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